Os lobbies mais poderosos em Brasília são os da indústria dos alimentos e do agronegócio, que se misturam.
Agora a pressão é gigantesca, uma verdadeira guerra para manterem os ultraprocessados na cesta básica. O governo Lula determinou a retirada de vários desses venenos da cesta, o que apavorou as indústrias.
A dos alimentos protesta contra uma espécie de "terrorismo nutricional" em curso. Defende que alimentos como biscoitos, salgadinhos, macarrão instantaneo dentre outros estariam sendo "cancelados" injustamente. Há uma "ditaduta do saudável", segundo esses lobbies, querendo ameaçar a sobrevivencia de empresas tradicionais, vítimas de uma abominável campanha. Eles são profissionais na dissonância cognitiva, transformam saúde em ditadura e nutrição em terrorismo.
A esse discurso se soma os representantes do agronegócio, fornecedores de matéria prima - trigo, soja, milho, carnes, tripas, açucar etc. É mais um festival de grotesco cinismo em Brasília, ao lado da criminalização de meninas estupradas que abortam, da liberação do trabalho a partir dos 14 anos e do perdão para políticos que cometem ilegalidades nas campanhas.
O INFERNO PROCESSADO
Brasília é um distrito do inferno. Conheço pessoas que se mudaram pra lá e adoeceram. Outras que trabalham mas buscam transferência para bem longe. Outras que simplesmente largaram tudo e fugiram para a chapada. Tudo depende da sensibilidade. Estar no governo, por exemplo, é testar a resiliência ao nível máximo. É para os fortes. Eu não suportaria, nem sei como alguém suporta. No entanto são esses fortes que enfrentam os lobbies criminosos das bancadas do boi, da bala, da biblia e agora dos alimentos processados.
Recente trabalho da USP (Universidade de São Paulo) aponta que 57 mil pessoas morrem por ano vítimas de farinhas ultraprocessados. O SUS gasta R$ 8,2 milhões por dia e R$ 3,45 bilhões por ano em tratamentos de gente contaminada por sódio, açúcar, gorduras trans, carnes processadas...e refrigerantes.
Um dos parlamentares da bancada do cinismo exibia, durante encontro, folheto de propaganda da Coca-Cola como peça científica. O folheto reproduzia dados de um suposto estudo que diminui o papel da alimentação industrial na obesidade. Esse deputado diz não defender a Coca-Cola, mas lutar para manter as carnes vermelhas como itens da cesta básica. Na sua última campanha, o parlamentar recebeu R$ 50 mil de doação de um grande frigorífico, o Friguaçu.
Manter os ultraprocessados na cesta básica, considerada a "galinha dos ovos de ouro", tem uma vantagem adicional: a isenção de impostos. A proposta do governo é isentar produtos in natura ou minimamente processados, mas contempla margarina, fórmulas infantis e outras massas alimentícias. Os lobistas trabalham para ampliar a lista. Querem incluir a salsicha que defendem como proteína barata acessível ao pobre além de enlatados, bolos, molhos e sucos artificiais.
Os lobbies dos ultra representam potências como Nestlé, Sadia, Ambev, Unilever, Seara, Cargill, Garoto, McDonald's, empresas que faturam R$ 1 trilhão por ano, respondem por 10,8% do PIB e empregam 1,97 milhão de trabalhadores diretos. A gente sabe onde essa corda vai quebrar.
Brincadeiras nas redes sociais escondem verdadeiras peças de marketing desses gigantes. Em um vídeo, grupo de meninas estilosas, lindas, revelam aos risos quais os homens ideais para levá-las à cama. Devem beber cerveja, com certeza. Esses que tomam suco de lima, eca, eca! Devem gostar de pizza calabreza e peito de peru tamanho família com Coca-Cola, e sobremesa de sorvete Hanga Dhass, um luxooo!! Esses que tomam chazinho e comem folha ahahahahaha, tô fora!!
E assim vão destacando como símbolos de masculinidade e sedução homens que bebem álcool e comem industrializados, sempre aos risos. O senso comum acha que é tudo espontâneo. As redes sociais estão cheias de armadilhas diabólicas produzidas por profissionais qualificados, os antigos publicitários e marqueteiros que, por sinal, sumiram dos noticiários, perceberam?
É o jogo!
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