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Foto do escritorArthur Andrade Tree

PARIS, O FIASCO

A competente propaganda sempre deu um jeito de jogar pra debaixo do tapete a sujeira parisiense. Bitucas de cigarro e cocôs de cachorros nos passeios... é cultural! Vi motoristas atirando latas de cerveja pelas janelas dos carros, sacos e restos de fastfoods nos meios-fios, a cidade com cheiro de inhaca. Primeiro mundo! Ah! Mas você tem má vontade porque sua bagagem foi extraviada na chegada, no aeroporto Charles De Gaulle e quase foi assaltado dentro do elevador do hotel! O segurança sudanês meteu a mão na porta e impediu o assalto "sortir sortir, ladrons".


Nunca entendi esse encanto por Paris, essa quase unanimidade. Estive por lá no longinquo início do século XXI e a cidade já era imunda. Visitei um casal, ela brasileira limpinha e ele francês sem tomar banho, na ocasião, há uma semana. Na hora do "oral" era um inferno, queixa dela. Mas ele era francês, num sabe? Relembro as imundícies de Versailles, os conteúdos dos penicos lançados pelas janelas. Os vomitódromos como pontos turísticos, o lugar onde a nobreza descarregava a comida entalada no esôfago. Dedo na garganta e uhóóó pra dar espaço pra mais porco assado.


A competente propaganda que sempre deu um jeito de esconder, agora perdeu, mané! As olimpiadas levantaram o tapete e expuseram o caos parisiense. Agentes de viagens estão enlouquecidos. Poucas horas antes do início da cerimônia de abertura, gangues bem articuladas roubaram os cabos dos metrôs, parando a cidade. Em poucas horas o número de roubos e assaltos explodiu, atordoando a polícia. Embaixador do time brasileiro, Zico teve sua mala roubada com uma fortuna em euros, relógios e pedras preciosas, avaliados em R$ 1,2 milhão. Mas que diabos Zico fazia com uma mala dessa na porta do hotel??


E o sexo nos intervalos? Mais de 300 mil preservativos serão distribuidos na multicolorida Vila Olímpica, a ponto de a ex-jogadora brasileira de basquete Hortência comentar que a Vila será o lugar onde mais se gastará camisinhas na história. O sexo é livre e feito abertamente a luz do dia - atletas admitem que a "baixaria rola mesmo". Esses 300 mil preservativos vão parar no Rio Sena?


A cerimônia de abertura me lembrou o filme "Sob as Águas do Sena", quando tubarões partenogênicos (que se auto reproduzem) invadiram o rio, devoraram atletas e destruiram a cidade, justamente na abertura dos jogos. As feras não apareceram, mas aquela loucura esteve perto de ser cancelada diante das ameaças terroristas. Os barcos cruzaram as águas fétidas sob os olhares tecnológicos de agentes de segurança e snipers.


A organização primeiro mundo francesa mostrou-se um fiasco. Acho até que chegou a hora de reavaliar quem é primeiro mundo. Equipes foram abandonadas mais de três horas sob sol escaldante, incluindo a brasileira de skate, à espera do ônibus para a Vila. Os bus nunca apareceram, obrigando os atletas a se virarem com taxis. A delegação da Noruega, acostumada com o friozão nórdico, alugou 140 ventiladores para os alojamentos dos seus atletas já que não havia aparelhos de ar-condicionado na Vila Olimpica.


Os suecos compraram os próprios colchões por não suportarem os oficiais considerados duros demais sobre camas de papelão "anti-sexo". Uma piada atrás de outra. Os bailarinos da abertura ameaçaram entrar em greve antes da apresentação em protestos pelos baixos salários e as péssimas condições de trabalho e de alimentação.


Faltou comida para a galera. A organização resolveu veganizar os cardápios sem contar que nem todos dispensariam a velha carne bovina e o frango. O Reino Unido contratou chefs de cozinha ingleses para incluir proteina animal nos pratos dos súditos do rei. E o Brasil foi obrigado a montar um restaurante típico para sua delegação.


A França havia prometido chefs cinco estrelas para alimentar o povaréu e banir os fastfoods na Vila Olimpica. Não rolou. O restaurante oficial com capacidade para apenas 3.300 pessoas recebeu 14.500 atletas. Por isso, as filas gigantes passaram a dobrar as esquinas. Alguns dos alimentos chegaram crus nos pratos por absoluta falta de tempo para o preparo.


Mas a abertura com Céline Dion foi tocante. Aos 56 anos, a cantora passa por momento complicado com a Síndrome da Pessoa Rígida. A doença autoimune e sem cura afeta os músculos, gera dores constantes e problemas de mobilidade. Segundo a OMS, a síndrome acomete uma entre um milhão de pessoas. Após muito tempo longe dos palcos, Dion usou força fora do comum para homenagear Édith Piaf. A arte, enfim, salvou Paris do completo fiasco.

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