O que mantém a energia do mundo civilizado é a mesma que mantém os caixas eletrônicos ativos. A estratégia do sistema é misturar economia, política, religiões e esperança no futuro. Genial demais!
Na política, a democracia nos vende a idéia de liberdade no capitalismo, nesse mesmo lugar onde somos todos escravos.
Estamos encarcerados no sistema, não há como transitar sem autorização, os documentos e a carta de alforria, o dinheiro. Quem contraria é marginalizado, lançado nos abrigos, asilos, prisões e nas ruas.
Nas penitenciárias só sobrevivem os que se aprisionam a grupos milicianos, às facções ou aos crentes. Os independentes são rapidamente mortos para não contaminar o resto.
É nas prisões que grupos religiosos compram seus escravos com promessas de liberdades celestiais, a bíblia. Então esses duplamente cativos encontram segurança nas algemas de pastores.
A genialidade do sistema captura seus servos com iscas invisíveis de liberdade, igualdade e fraternidade. Sabemos que a maioria dos humanos não tem acesso a nenhum dos três, mas acredita que um dia terá. É a crença nesse futuro que mantém as correntes folgadas. E o futuro é o dia seguinte que chega do mesmo jeito, exceto por nos envelhecer um pouco mais.
A montagem é tão genial que o sistema permite ser contestado e até ameaçado usando suas próprias ferramentas. É como se o inimigo entregasse as armas para ser atacado, “tome, me derrube”. Lógico, nada o abala, ao contrário, só reforça seu domínio e a esperança de um dia derrubá-lo. Sem saber, o alimentamos com sua comida predileta, a ilusão.
As vozes gritam contra as desigualdades usando os seus microfones, suas imagens, seus palanques e sua propria energia, as mídias. Agora as redes digitais amplificam ao maximo o poder do capitalismo enquanto achamos que o contrariamos com nossos memes.
Nunca esteve tão forte e seguro de si. Potenciais adversários do passado aderiram aos seus encantos e adotaram as mesmas cartas de alforria. China e Russia se entopem de ouro para sufocar o império e controlar o sistema com armas e mais dinheiro.
A ARTE LIBERTA?
Quando decidi fazer jornalismo, sonhava lutar contra o sistema, mudar o mundo injusto com denúncias e palavras. Então fui trabalhar em jornais e emissoras mantidos por empresas capitalistas. Depois em agência de propaganda contratada por empresas capitalistas. E o mais louco de tudo, eu me realizava. Adorava aquela adrenalina que sugava minha vitalidade. Era o escravo feliz.
Nada escapa à escravidão, nem a arte. O bordão “só a arte liberta” é uma das artimanhas do sistema para acalmar as inquietudes dos artistas. As agências controlam as bandas e os famosos. Os empresários cuidam de tudo, da segurança à privacidade ou a falta dela se for conveniente. Sorte dos não famosos achar um empresário que os “administre”, uma palavra leve para escravidão e lucro.
O palco liberta é outra ilusão. Há um mundo de controles para que nada saia do roteiro. O script é uma algema, a partitura uma prisão. Até os que improvisam estão presos à platéia.
O esporte, a ciência, as seitas, as grandes festas. No ultimo dia 2 de Julho a Bahia celebrou mais um ano de independência dos portugueses. Multidões se comprimiram em ruas estreitas vigiadas por milhares de policiais. Senti a estranha sensação de liberdade onde havia apertos, cuidados e contenções.
Imaginamos a liberdade na natureza, mas estamos presos nela. Nosso corpo é uma cadeia com todos os órgãos trancafiados nos seus lugares. Temos o direito de sair durante o sono, assim dopados sem chance de perigo de fuga. As vezes podemos não voltar, mas há os que garantem o inevitável retorno à cela.
Há outros meios de escape e a humanidade os usa com vontade. Sabe-se no entanto que não há o menor risco de esses meios comprometerem o sistema e o Estado, maior fiador do capital. Ao contrário, o sistema estimula seu uso que é outra prisão, das mais destrutivas. A unica forma de liberdade é acreditar na sua possibilidade.
A ilusão liberta mas não passa de outra prisão.
"E assim caminha a humanidade..."