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Foto do escritorArthur Andrade Tree

O PODER DA VIOLÊNCIA

Atualizado: 13 de out.


Um espanto, 350 milhões de mulheres com menos de 18 anos sofreram violencia sexual no mundo nos ultimos dez anos - Unicef. Se ampliar para a violencia sem contato direto, os números sobem para 650 milhões. Contra homens abaixo dos 18 anos, foram 11 milhões de registros. Os números assustadores são os oficiais, portanto multiplique aí por dez. Lembrando que estamos no século 21.

Em São Paulo, a policia recebe uma denuncia de violencia sexual a cada 40 minutos.

Uma das explicações está nas gritantes desigualdades sociais e economicas, o capitalismo selvagem. Pode ser. A maioria dos casos se dá em paises do terceiro mundo, incluindo Africa e Asia. A India está entre os principais, lugar onde as diferenças persistem desde sempre, muito antes do dinheiro como divindade. A questão remanta as cavernas.


Lembro de duas amigas namastês cujo sonho de consumo era a India espiritual. Grana suada investida para terminarem perseguidas por machos religiosos sedentos por sexo na marra com gringas. Por milagre conseguiram escapar do estupro nas vielas de Bombaim para se fecharem em um mosteiro, apavoradas com os espíritos encarnados do lugar.


É A EDUCAÇÃO


A violência é um mistério. Como explicar? Uma amiga bem próxima, casada na época com um jornalista tranquilão-paz-e-amor passou a viver um inferno depois de se mudar para a cidade dele. Foi quando o tranquilão decidiu que ela não deveria mais sair, trancou as portas e levou as chaves. Cárcere privado e sem telefone, até que engravidou.


Após o parto, ainda no hospital, aproveitou a ausencia do marido, arrumou as coisas, ajeitou o bebê e fugiu. O paz e amor se desesperou, pegou um vôo e foi resgatar a mulher apavorada na casa dos pais em Salvador. Armado e aos gritos na porta do imóvel, exigia sua saída. A policia foi chamada.


Dois anos depois, ja morando sozinha com o filho, foi surpreendida pelo tranquilão à sua espera na porta do prédio. Espancou-a na frente do menino. Foi preso em flagrante graças à inteferencia de vizinhos. No dia seguinte, ela retirou a queixa após súplicas do homem. Não teve mais notícias.


Uma conhecida terapeuta se apaixonou pelo cliente. Cara surfista, malhado, educado, bem de vida, familia de bem de Floripa, tinha uns probleminhas gerenciáveis, nada demais... ela mergulhou de cabeça na relação.

Resolveram um dia deixar o tumulto da metropole para viver o grande amor no Capão, na Chapada Diamantina. Ele então se revelou. Decidiu que ela não sairia mais de casa. Como não podia trancar as portas da casinha, amarrou-a na cadeira. Antes deu uns sopapos para mostrar que não era brincadeira. À noite a soltava, estuprava e amarrava na cama.


No dia seguinte, ela feriu os pulsos nas cordas mas fugiu. Fugiu desesperada. Para driblar a perseguição do homem, arrumou as trouxas e se mudou para sua cidade natal nos cafundós do judas do sertão baiano. Até hoje não tem redes sociais com medo dele descobrir onde está, e já se vão dez anos.


Ambas histórias envolvem homens brancos, classe media alta, boas escolas, bom papo, gente boa com uns viciozinhos em drogas e poder. Sim, viciados em poder. Sem algum tipo de poder a vida deles não presta. Um ex-colega de trabalho do tipo retadão não se conteve e ainda eufórico revelou: "acabo de dar um murro em minha mulher, botei ela no chão".

O que?

Ela foi questionar a minha masculinidade, nunca mais vai repetir isso!


Poder, será isso? Educação precária, será isso? Ancestralidades destrutivas, traumas, turbulências na gravidez, violência na infância? O que será?

São infinitas teorias. Sem uma resposta convincente, todas parecem concluir que a paz é um sopro e não faz parte da humanidade senão como utopia, ou seja, estamos fudidos.


NATUREZA SINGELA!


Corta para uma vila de maioria evangélica e pobre. O tio, um respeitado motorista de onibus decidiu que sua sobrinha de 16 anos não deveria mais estudar e sim cuidar da avó na cama com Alzheimer. Ameaçou espancar a menina caso deixasse a velha sozinha. Mostrou os punhos fechados, aqui ó!


A garota exaurida acionou os amigos pelas redes e acabou socorrida por uma psicóloga paulista que a orientou com quatro letras ensinadas por Confúcio: F U J A! A menina aguardou o momento e fugiu para casa de parentes em Salvador. Hoje, aos 18 anos, trabalha numa loja e estuda a noite. Diz que vai ser psicóloga.

A velha continua alheia na cama e sem cuidados.


Certa vez quando fazia trilha numa mata fechada com um pequeno grupo, fui empurrado com raiva por um dos guias. Rolei no barranco sem entender o motivo, quando o rapaz exibiu a cobra pendurada no galho decepada por seu facão. Ela iria direto no meu pescoço.


Quem acha que a natureza é singela nunca entrou numa mata fechada. Ali só os fortes e atentos sobrevivem. A violência dos insetos devasta estranhos que invadem seu espaço. Os bichos defendem seus territorios. Humanos também. E mulheres são vistas como territórios.


O ex-presidente impublicável tratou de reforçar essa idéia durante quatro anos. A propria filha foi resultado de uma fraquejada. Não estrupava uma parlamentar porque a considerava feia. Suas performances de macho no poder ganhavam risos de homens e espaço na imprensa de homens. Não só homens, mulheres de bem também aplaudiam.


A violência virou farra, festa, a violência é o grande negócio. Enquando gerar dinheiro, será “reverenciada”. As conversas de paz servem para aumentar as forças policiais, os investimentos em segurança e os aparatos de vigilância, ou seja, grana. O mundo sem dinheiro precisa da violência para defender territórios. O mundo com dinheiro precisa dela para ampliá-los. Enquanto houver territórios e poder, haverá violência.

Fim!

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