A entrega dos jalecos brancos aos estudantes de medicina é feita como um ritual de iniciação. Como uma batina ou uma toga, o jaleco é símbolo de poder que pesa assim como o carimbo. Ainda hoje sinto uma tensão quando uso o carimbo, relata um médico amigo. Nesse carimbo pode estar o destino de um paciente e o passaporte para um processo judicial.
Entre a cruz e a caldeirinha, entre a vida e a morte, o médico é um sobrevivente. Essa responsabilidade, um fio tênue, exaure esses humanos. Acredite, médico também é gente, faz xixi e cocô, tem insônia, ansiedade, chora e morre de medo de errar, não pode errar. E erra. E muito.
A VELHA SE MASTURBAVA
O ortopodista sem muita paciência atendeu uma vizinha idosa, consertou um osso da perna. A dor não passou, piorou. Ele então receitou analgésicos. E outro mais forte. E outro. Um ano depois, a perna ainda doia, a vizinha procurou outro médico que fez um Raio X e viu o osso fraturado. Com o tempo, deu-se a emenda na perna troncha. Não é recomendada cirurgia. O médico equivocado tem uma história. Trabalha além do limite para pagar a faculdade de medicina do filho, 18 mil por mês. Vive ansioso, exausto e com pressa. Fodam-se os idosos.
Outra idosa com mais sorte tem uma filha médica. Sorte, vírgula. A médica é viciada em academia e em whey creatina, soro de leite para malhação. Confiou na indicação do personal trainer e passou a dar whey para a mãe de 97, associado com injeções de testosterona. A idosa passou a se masturbar feito louca na frente das cuidadoras e achar que podia cavalgar na casa sem muletas. Caiu, cabeça no chão, cortes, crise na familia. Constatou-se que a médica também está doente.
MÉDICOS POR APLICATIVO
Um estudo feito na Alemanha menciona que a taxa de suicídios entre médicos é de três a cinco vezes maior que à da população geral. No Brasil no início de 2018, uma mesma faculdade de medicina registrou suicídio de cinco estudantes.
Levantamento do site Medscape, com respostas online e anônimas de 2.475 médicos, mostrou que um em cada dez tentou abandonar a profissão por causa da "Síndrome de Burnout". No popular, estafa, exaustão, esgotamento físico e emocional por conta do excesso de trabalho.
Esses profissionais vistos no passado como "sagrados", estão hoje sujeitos a empresas compradoras de serviços médicos, algumas estranhas à atividade. Por exemplo, uma operadora de telefonia acaba de incluir, dentre suas promoções, consultas médicas por 20 reais para clientes do plano premium.
A desordenada criação de escolas, o aumento da competição e o acelerado desenvolvimento de recursos tecnológicos - Inteligência Articial - que logo substituirão anamneses e dignósticos presenciais, estão jogando os médicos para a escravidão moderna, a uberização.
Hoje mais do nunca, médicos precisam de terapias e de outros tipos de médicos, holísticos, integrativos, conhecedores de ervas além de antibióticos, dos poderes da água e da terra além das drogas das farmácias. Gente que saiba cuidar da própria saúde e assim cuidar a dos outros. Mais médicos da saúde e menos médicos de doenças.
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