Era um homem preto de 1,80 m de altura, musculos saltados no peito e profissão segurança. Meu amigo fazia o censo do IBGE e bateu na casa dele num bairro periférico de Salvador. Exibiu crachá, apresentou-se, explicou o protocolo e iniciou a entrevista.
Nome, por favor.
Meu nome?
Sim, por favor.
O homem sem camisa, a pele brilhante, pigarreou, relutou..
Por favor, o nome completo..
Anote, Amorzinho. Amorzinho Ferreira.
Meu amigo refez a pergunta.
Senhor, é o nome de batismo e não o apelido.
Então, Amorzinho é meu nome de batismo. Mas me chamam de Zinho.
Meu amigo pediu licença, foi na área externa e perto dos restos de construção, gargalhou por todo o século 20.
Refeito, encontrou Amorzinho resignado na mesa.
Zinho porque não dá pra me chamar de Amor por aí, né?
Licença de novo…
Os filhos do pedreiro de nome Alírio eram uma homenagem ao trabalho do provedor da casa. O casal de gêmeos foi registrado como Alicércio e Longarina. Esse era um tempo em que os cartórios erravam as grafias e transformavam Milton em Millor e Fernando em Efernando.
Como é o nome da criança?
É Fernando.
Meu pai teve um colega de escola chamado Introdutorio cujo irmão era Índice e a irmã Editora. Já ouvi histórias terríveis de gente complexada por se chamar Prefácio e Súmula.
O técnico da companhia de elevadores Otis decidiu homenagear a profissão e registrou o filho como Elevaltor.
O ótimo e bem humorado professor de História chamado Faraó fazia sucesso com as turmas que o recebiam com êêê faraó, êêê faraó!
O dono de uma barraca de frutas em Salvador atende por Medieval casado com Penélope.
Segundo Fábio era filho de Fábio que virou Segundo só pra não se chamar Junior, o cantor. E os cinco irmãos da vizinha atendiam por Tiago, Tiego, Tiigo, Tiogo e Tiugo.
A tia de uma conhecida chamava-se Guitarra e o sobrinho, Violão. Em homenagem a deus, as filhas de dona Mariá viraram Deuscilia, Deuscélia e Deuscineia, todas atéias. Sinceramente, acho chique esses nomes exóticos, artísticos, exclusivos como grifes. Bobagem Ariclenes Venâncio ter trocado para Lima Duarte e Emival Eterno para o sertanejo Leonardo.
Já seu Oswaldo, meu vizinho no Santo Antonio, mudava o nome das pessoas a seu critério - tem cara de… Sua mulher Helena ele chamava de Regina, o cachorro Rex ele chamava de Luto e eu, Arthur, de Cafarnaum. Até hoje os filhos dele, todos grisalhos, me chamam de Cafarnaum. Acho que vou adotar.
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