As tragédias são anunciadas, não precisa videncia para ver o futuro. A queda do avião da Voepass é um exemplo de futuro anunciado. Aeronaves tipo sucatas com alertas de problemas e muitas reclamações de passageiros são futuros previsíveis, uma hora a conta chega. E a conta chega, nada escapa. No caso da Voepass, a conta chegou após 60 segundos de queda. Em um lapso de tempo, tudo mudou para 62 pessoas, uma centena de familiares e um país chocado.
O futuro é consequência, não surge da nada nem de repente. Ele é até generoso e vai avisando, avisando, alertando, um parafuso solto, uma fumaça estranha, uma coceira, uma dor de cabeça, uma chuva forte, um rio que invade, o mar turbulento. É o futuro avisando tô chegando.
Enquanto achamos que a Deus pertence, as formigas já estão mudando suas tocas, os passaros voando para longe, os sapos gritando, os elefantes se afastando do litoral, bichos iletrados e irracionais nos seus movimentos inteligentes sem questionamentos e em respeito ao inexorável.
Enquanto isso transferimos o futuro para a decisão de algum ser divino e tentamos impedi-lo com rezas. Enquanto isso um mal-estar balança o corpo, um desmaio, uma diarreia, erupções na pele, a garganta trava e a respiração se inquieta. Dias antes houve uma certa cólica e um sonho estranho, o pneu novo furado e uma sequencia de espirros.
Antes da queda do avião, dez pessoas estavam irritadas porque perderam a hora e o vôo. Brigaram com funcionários e cobraram direitos até descobrirem que o futuro salvou suas peles.
A gente pode ver o tanto de tragédias anunciadas sem precisar de buzios. Basta olhar à volta e ver os lixos que se acumulam, o mundo de carros nas avenidas, pessoas que se atropelam nas metropoles, agua contaminada, comida envenenada, noites em claro, dias inquietos. Basta ver as imagens nas telas, as bombas em Gaza, os misseis na Ucrania, as armas da Otan, os ratos nas metropoles, os tiros em Columbine. Basta ver o racismo que se espalha, as células nazistas, as religiões do ódio, o culto ao banal. Muito simples.
Ninguém irá escapar do futuro, nem Elon Musk fugindo para Marte nem Bill Gates no seu bunker no subsolo. Eles querem manter seus privilégios mais do que as proprias vidas, a cama confortável, o vinho de safra, a comida congelada, o suco de caixa e o dinheiro no cofre. A escravidão é o seu futuro.
E os que como bichos saem das tocas e fogem para longe, montanhas e florestas, terão suas chances de futuro. São os que perdem o vôo de caso pensado, uma minoria assumida, desorganizada, determinada e louca. Seres estranhos que trocam microondas por fogão a lenha, ar condicionado por brisa da montanha e gas carbonico por cheiro de mato. É a turma do futuro descolado do resto mas ainda assim sem garantia de salvação.
Uma amiga foi pras montanhas da Eslovenia, outro para a Chapada dos Veadeiros, outros pro Capão, Catolés, Piatã. Todos vibrando presentes incomuns comendo raizes e folhas, dormindo em camas de palha e banhando em águas de nascentes. É o futuro grudado ao passado, o futuro ancestral. Vamos saber se deu certo quando acordarmos no day after.
"É isso aí, bicho"... e ainda teve o Movimento hippie, que nos avisou que o menos vale mais...kkk