O caminho da evolução do sapiens é feito de cadáveres. Por onde passamos deixamos morte no chão, nas aguas, deixamos rastros sujos no ar. As sociedades humanas evoluem matando seres, cortando matas, drenando e confinando rios, contaminando mares. A cidade brasileira mais evoluida é a mais desgraçadamente suja. Seu ar cada vez mais irrespirável, sua água poluida, seu lixo monumental.
A riqueza do lixo traduz o tamanho da evolução das cidades. A inteligência evolui pelo acúmulo de dados, o coração pelo acúmulo de dores. Quantidade tem sido a regra. As contas bancárias mais evoluidas são as mais cheias de zeros.
Chegamos no ponto, a evolução é feita de zeros. Basta um sapiens e a sequencia de zeros para torna-lo evoluido. Basta um lugar e as contas de zero arvores, zero bichos, zero saúde para torná-lo habitável.
Os paises ricos enriqueceram zerando riquezas de antigos paises ricos, hoje pobres. A Europa zerou a Africa, paises das Americas, partes da Asia. A Europa civilizada é cheia de sangue de pretos, indios, povos originarios transformados em zeros. Os Estados Unidos continuam zerando paises das Americas, do Oriente Medio, alguns da Europa, tentam zerar a Russia que praticamente zerou a Ucrania.
Empresas sobrevivem zerando outras, humanos competem, politicos, bandidos, quadrilhas disputam areas zerando outras. A policia mais eficiente é a que mais zera incomodos, a meta é zerar a violencia zerando violentos, confinando-os, elimimando-os ou silenciando-os.
Os jogos atraem suas presas exibindo o tanto de zeros que poderão abocanhar. Como o que torna os jogos atraentes é a possibilidade de enganar o azar com uma sorte improvável, as presas transferem felizes seus zeros para os cassinos. É a forma mais astuta de roubar por iniciativa e consentimento da vítima.
Os mestres iogues ensinam que mente calma é a que zera pensamentos e turbulências. As drogas ajudam a zerar a realidade assim como propagandas, carnavais, futebol, grandes shows. No sono zeramos as inquietações, nas doenças, as ansiedades. O corpo zera movimentos para se proteger do hospedeiro aflito. É preciso parar.
O planeta é um imenso e belo zero azul solto no ar. Envolto por uma sensivel camada de atmosfera, não passa de um fragil ser lutando contra a furia do sapiens em zerar sua existencia. É tanta fome por destruir, por eliminar que os humanos não conseguem mais parar. Diante disso e sem mais alternativas, o planeta está prestes a tomar a derradeira decisao para não ser completamente extinto: zerar sua humanidade.
E os sapiens assistem à tudo, como se não fizessem parte disso e ainda estivessem esperando a salvação final, como num filme de ficção científica, ou num dia das bruxas...🎃