Nasceram os filhos de Bela, minha cadela. Quatro bitelos pretos como a noite de lua nova, nascidos em plena lua cheia. Tanto que a única mocinha chama Lua Cheia, os irmãos são Sol, Coração e Porta. Coração porque nunca vi tanto tumtumtum quando pego no colo. Porta porque é o mais curioso a enfiar o focinho na fresta entre a porta e o chão da cozinha. Sol porque tem aquele ar grandioso, quieto e naturalmente lider.
Os quatro mamam alucinadamente na mãe paciência pura. Desde a primeira hora, eles sabem onde estão os peitos. Grudam nos bicos como desentupidores. Sou marinheiro de primeira viagem com proles de quatro patas. Nunca tinha visto desentupidores vivos.
Um mês depois, os peitos não bastavam. Então entrei em cena como mãe. Comecei os rituais das rações de desmame. Em poucos dias eles passaram a ter duas mães. Pequenininhos, quando viam meus pés sabiam que a mãe grandona chegara. Então corriam tropeçando nas pernas ainda bambas para abraçar meus pés cheios de barro da roça.
Os quatro ariscos vistos do alto, que visão mais encantadora. Comecei a me sentir mãe com paixão de mãe. Viajei preocupado com eles. Voltei rapido correndo pra eles. Como eles sabiam que eu chegava? Sentiam meu cheiro longe na estrada. O rapaz que trabalha comigo disse que eles enloqueciam.
Agora já maiores pulam da varanda sem medo do futuro, rodopiam na grama e correm pra mim ou pra Bela. A mãe paciência pura já não tem mais tanta paciência e começa a liberá-los para a mãe assustada. Na véspera de São João, dia 23, eles completam dois meses. Quase não mamam mais em Bela, agora esperam pelas minhas tetas.
Estacionam na porta da casa, choramingam avisando da fome. Então a mãe prepara a ração, distribui nos potes entre as bocas alegres e... agora eles têm certeza que esse bicho gigante é a mãezona. Bela também sabe disso. Hoje os cinco mamam nas minhas tetas.
Todos nós buscamos as tetas. Todos buscamos as mães. É uma injustiça dizer que corruptos mamam nas tetas do estado. É uma comparação muito da escrota. Tetas dão vida e não benesses. É um privilégio ter tetas para sugar amor e alimento. É o maná, o caldo cósmico que reúne os ancestrais em cada sugada.
As plantas mamam na terra, os pássaros mamam nas plantas, os peixes mamam nas tetas protegidas das águas, o planeta mama no cosmos. Todos mamam. Quando acaba o leite, mamam no afeto, na memória dos peitos, nos delírios dos sonhos. Há os que esquecem, os que maldizem, os ingratos, os mal mamados. Eles não brilham os olhos, são ressecadas e doloridos. Com certeza, não mamaram ou “desamaram” cedo….
Agora com licença que as crianças querem mamar.
Parabéns "Maizona" por seus filhotes!
Li num livro, que os pets existem para exercitarmos o amor incondicional.