Quando saiu do banheiro no apartamento minusculo em São Paulo, a namorada com expressão debochada perguntou se ele comia flores. Comparava com o ex que devia comer lixo. Como pode alguém usar a privada e deixar o banheiro sem cheiro?
Ela então o seguiu pela Liberdade até o restaurante Satori, templo do professor Tomio Kikuchi, que nunca foi professor de diploma mas de direito. Drauzio Varela o chamava de professor, Gilberto Gil, Flora, Neyde Benitez o chamavam de professor.
Morreu em 2019 antes da pandemia deixando um buraco e uma interrogação: como trataria a covid-19? Logicamente com nabo branco ralado e limão pingado. E arroz cateto mais vacinas.
Ela entrou no Satori e quando pensou que não, já estava inscrita no curso de cozinheira macrô. Quando o namorado chegou, ela estava de lenço na cabeça cortando cenouras enviezadas na tábua de bambu. Foi então que aprendeu a deixar banheiros sem cheiros.
O passo seguinte foi ler Andreas Moritz, o alemão que deveria viver no maximo 10 anos e viveu 58. Moritz morreu porque quis, do mesmo jeito que Kikuchi. O professor cansou de gente tola, alienada, fechou a boca e morreu aos 93. Moritz se recusou a ter o corpo cortado em uma cirurgia e preferiu se mandar.
O alemão, mestre em medicina chinesa e ayurvedica, era contra violência até as ultimas consequencias. É dele o ousado “O Câncer não é doença” mas um sintoma. A doença é o sistema.
Ela então foi ler “A limpeza do figado e da vesícula”, seu best seller. A beleza da vida está no fígado, na vesícula e no intestino, dizem os antigos mestres. Limpando os três a vida dura o tempo que quiser. E os banheiros viram flores.
Já nao eram mais namorados quando ele fez a vigésima limpeza do figado e da vesícula. Ele havia decidido assumir o risco, uma coisa é ler o que outros fizeram, outra é fazer. E fez.
Seguiu o ritual orientado por Moritz na semana de lua nova, suco de maçã, sal amargo, sucos de limao e laranja mais azeite de oliva extra virgem. No dia seguinte, colocou uma peneira e sobre ela liberou agua e pedras no vaso. Espalhou o resultado sobre um papel de metro na varanda e contou oitocentos e cinquenta pedras.
Sentou no sofá da sala como se estivesse no nirvana, o sétimo plano, outra dimensão. Dois meses depois fez a segunda limpeza, duas mil pedras. Na terceira, quase três mil. Na quarta em diante a quantidade foi caindo até virar poeira de estrelas na vigésima.
Nas andanças conheceu uma senhora com pele de criança. Por ironia ela havia lido Moritz no original em alemão. Era biologa da FioCruz. Fez a limpeza como experiencia cientifica e o resultado estava visível. Disse a idade, 82, mostrando um riso vaidoso e olhos iluminados.
Tanto a senhora, como a ex-namorada e o ex eram unânimes: não dá pra colocar qualquer coisa no corpo depois dessa faxina. Não dá mais pra ser a mesma pessoa. Figado, vesícula e intestino são afinal portais para evolução da consciencia. E quando expande, acredite, não volta mais.
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Palmas pra ex namorada, pro namorado e para a bióloga da FioCruz!.😇