Por que as águas estão afogando tanta gente e destruindo cidades? Não apenas no Rio Grande do Sul, estão devastando em várias partes do mundo - China, Somália, Kenia, Arabia Saudita, Emirados Arabes Unidos, Afeganistão, Ucrania, Russia e tantos outros pontos, todos críticos. A tese aceita é a das mudanças climáticas, mas o buraco pode ser mais embaixo.
A natureza produz sensações através dos seus elementos. O fogo gera impulso criativo, respeito, encantamento; o ar gera respiração, inteligência, inquietações; a terra sustenta tudo e a água cuida das emoções. Se todos geram vida, todos geram morte. Viver e morrer são manifestações tão naturais quanto nascer e crescer. Portanto a missão dos elementos é cuidar de tudo, do nascer, crescer, do viver e morrer.
Quando os riscos são grandes para a sobrevivência, os elementos se mobilizam. Se a dor do planeta tem relação com indiferença, insensibilidade, a mãe seca suas águas. Se a dor tem relação com ódio, medo e ingratidão, a mãe libera suas águas. Quando secam, empurram o perigo para longe. Quando inundam, dissolvem o perigo e lavam as sobras. Parece ser isso o que está ocorrendo agora.
DESCONEXÃO
Um olhar diferente pode levar a uma morte. Uma palavra inesperada pode provocar um tumulto. A vida moderna alterou as formas de sentir. Perdeu-se a confiança, os outros são incognitas, a insegurança dá o tom. Por fim, as novas tecnologias amplificaram as formas de mentiras e ódio. Estamos na era do consumo de emoções. Casas, carros, celulares, roupas, bugigangas, bebidas e comidas são transformados em emoções. Há uma overdose, uma exaustão, banalizou-se o sentir.
Com isso, a desconexão com o planeta tem atingido níveis extremos. A maioria da humanidade sofre desse afastamento. A necessidade de consumo exacerbado é resultado dessa desconexão. O materialismo é resultado desse afastamento e da coisificação das emoções.
Os efeitos estão nas catástrofes de agora. Tipo assim, perdeu-se o rumo, hora do freio de arrumação, inunda tudo, pega um exemplo e exibe ao mundo. Para o Brasil, qual melhor exemplo senão o imponente, arrogante e esbranquiçado Rio Grande do Sul?
Uma influencer gaúcha acaba de publicar vídeo em que se diz surpresa com seu estado. Não sabia de fama tão negativa. Apesar da mobilização emocionada do país em solidariedade aos desabrigados, muitos gaúchos continuam reclamando da vida, diz ela.
Se as águas fizeram uma gaúcha reconhecer o caráter dos seus conterrâneos, fizeram o país descobrir que muitos dos 540 mil desalojados são pretos. O presidente Lula ficou surpreso, "não sabia que eram tantos". Quase 22% da população preta sairam da invisibilidade graças às águas.
Parem de brincar com as emoções, desqualificar o sentir, privilegiar o ódio, as competições e o sucesso a todo custo. Cidades aterram suas aguas e sobem seus prédios para exibir poder. Quanto mais altos, mais civilizadas, mais desconectadas. Eis o resultado: os esgotos visíveis e invisíveis todos expostos graças às águas aflitas do mundo. E é só o começo.
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