Aliado dos nossos nervos e do modelo de normalidade, o hábito é por definição uma hipnose permanente.
O grau de subordinação aos hábitos indica o nível, a capacidade de a pessoa ser submissa a comandos da rotina, da popaganda, das crenças, religiões, tradições, ou seja, quanto mais adeptas do cotidiano normal mais fáceis de levar ao transe. A gente já viu multidões patróticas em transe conduzidas como gado, até sem berrantes.
SEMANA SANTA
O habito disfarçado de tradição da Semana Santa é essa hipnose com dias marcados. É como se houvesse no momento certo um comando, um bater de sinos como o estalo dos dedos do hipnotista e o gatilho “durma”. Pronto, em estado de transe as multidões são arrastadas para os mercados das cidades. Mais um ritual precisa ser cumprido.
Desde quinta-feira passada, multidões ocupam um dos maiores mercados de Salvador, na Cidade Baixa, que passou a funcionar 36 horas ininterruptas pra dar conta desse transe coletivo, a busca pelo peixe santo.
Quanto mais religiosas e conservadoras as comunidades, mais voltadas a guardar a quaresma e mais susceptíveis à hipnose. Consta que evangélicos não celebram essa tradição de origem pagã mas não significa que não sejam igualmente hipnotizados, tentados a burlar orientações de pastores e disfarçadamente a traçar o peixinho santificado.
PARA DESOBEDIENTES, O MEDO
Pessoas inquietas, hiperativas, desobedientes são mais difíceis de hipnotizar. As crianças em geral são assim. Mas para elas, nesse caso, o que funciona é a pressão. Em algumas comunidades é comum adultos espalharem que é pecado comer carne na sexta-feira santa porque seria o mesmo que comer o corpo sangrento de Cristo. Tambem é proibido jogar futebol porque chutar a bola seria o mesmo que chutar a cabeça de Jesus. Crianças levam choques com essas imagens bizarras e assim acabam eventualmente convencidas das “maldades”. Hábitos, tradições também se constroem pelo medo e a gente sabe o quanto o medo paralisa, ou seja, hipnotiza.
Toda vez que uma pessoa, ao acordar, sair da cama pelo mesmo lado, entrar no banheiro, lavar o rosto, tomar o café do mesmo jeito que o dia anterior, seguir os mesmos rituais semanas, meses, anos a fio… este ser humano estará no modo hipnose. Pessoas que levam a vida fazendo as coisas do mesmo jeito, nessa monotonia de comportamentos, estão em hipnose. Lógico que existem hábitos saudáveis, ok, mas o que fazer com os destrutivos? Não é fácil tomar consciência do cotidiano.
As rotinas, as leis, as cerimônias, as divindades, os batuques e os sinos das igrejas são todos comandos de hipnose. Para a maioria dos humanos assim é a vida, esse eterno transe hipnótico.
O que seria uma ferramenta do cerebro para atuar sem atenção se tornou uma armadilha no processo civilizatório