O capitalismo e o império ideológico da branquitude são uma catástrofe só. A hipocrisia é sua religião. Em poucos séculos de mentiras, conseguiram destruir culturas milenares e transformar regiões pacíficas em infernos na terra. Para isso usaram desde o alfabeto às igrejas brancas, desde as regras conservadoras europeias às drogas das indústrias modernas.
A imposição do alfabeto criou a classe dos analfabetos. Assim povos originais foram excluídos pelos letrados e escravizados como iletrados. A imposição das igrejas criou o ateu, os pagãos, os pecadores e as bruxas, todos incinerados pelos cristãos convertidos. Judeus fugiram para escapar das fogueiras e para sobreviver trocaram nomes originais por sobrenomes de plantas, madeiras, pedras e submissos, os leais. Eu sou descendente de judeus sefarditas, um "L'al" fugitivo que no Brasil virou um "Leal".
Mundo hipócrita completo, faltava criminalizar bichos e plantas. A inteligência da nova sociedade criou então o lobo mau, o burro como ignorante, a cobra como falsa, o estúpido como cavalo, a mulher transgressora como vaca, o pacífico como ovelha, as multidões insanas como gado. Criou ainda o corvo como símbolo de bruxaria, a águia como astuta, o rato como ladrão, o cachorro como o escrôto e os macacos como descendentes de africanos. Faltava criminalizar algumas plantas e dominar patentes de outras. Plano perfeito.
COGUMELO SAGRADO
Todo mundo sabe que o cogumelo sempre foi usado por culturas ancestrais. Consta que Cristo usava e ensinava aos discípulos como alcançar deus via seu chá. Há um monte de referências ao cogumelo alucinógeno em vários textos sagrados. Os egípcios o consideravam presente de Osíris e somente os faraós podiam consumi-lo. Romanos e gregos o consideravam sagrado e para os chineses era o elixir da vida. Veio a cultura branca ocidental e criminalizou o cogumelo alucinógeno.
O professor de Harvard Timothy Leary, psicólogo, usou LSD e Marijuana para expandir consciência dos seus alunos. As drogas ajudariam a ampliar a auto compreensão dos aspirantes a psicólogos para assim atender dignamente seus pacientes.
O LSD e a Marijuana eram livres, mas Leary foi preso pelo governo, considerado o homem mais perigoso da América. Era início da guerra às drogas psicodélicas. O LSD foi proibido, se juntando à cocaína, heroína, ópio, maconha e outras vendidas livremente nas drogarias do passado, incluindo o açúcar. Sim, o açúcar era droga vendida em drogarias
Sigmund Freud usava cocaína e receitava o pó para empoderar pacientes. Van Gogh usava a "Digitalis Purpurea", droga receitada pelos médicos para controlar suas crises de depressão profunda. A droga estimulava a cor amarela, que o gênio transferia para seus quadros.
Salvador Dali uma vez declarou “eu sou a droga”. Sua técnica era olhar um objeto fixamente por tanto tempo até vê-lo dissolver. Dali dizia sonhar com Hitler enquanto outros homens sonhavam com mulheres. O gênio catalão usava açúcar, muito vinho e curtia orgias em sua casa.
Outro gênio, Pablo Picasso era viciado em ópio que fumava nos cachimbos. Aliás, os cachimbos serviam para a fina flor da sociedade fumar suas drogas em público e se deleitar nas poltronas após o jantar familiar, antes da droga da TV viciar os humanos.
Thomas de Quincey, Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e William Burroughs criaram estilos literários com uso de drogas. Aldous Huxley, Edgar Alan Poe, Sir Arthur Conan Doyle e Lewis Carrol autor de "Alice no Pais das Maravilhas", usaram mescalina, opio, cocaína, heroína para nos legar obras imortais.
MAIS FARMÁCIAS QUE ESCOLAS
A maconha foi a primeira droga utilizada pela humanidade. Há mais de 10 mil anos, a cannabis era apreciada pelas civilizações antigas por suas propriedades medicinais e psicoativas. Hoje é proibida em boa parte do mundo. A cannabis medicinal sofre pressão avassaladora da maior indústria de drogas do planeta, a farmacêutica.
Responsável pela proibição das drogas ancestrais, a indústria farmacêutica luta ferozmente contra todas que ameaçam seu império. Usa o estado para criminalizá-las em troca de dinheiro de impostos e verbas para campanhas. A história do açúcar é exemplar. O pó branco era vendido ao lado da cocaina, ópio, heroina, morfina em drogarias do passado. Até fins do século XIX, havia lojas expondo cocaina e açucar nas prateleiras.
Até que importantes governos faliram. Havia débitos impagáveis contraídos com barões do açúcar, sobretudo. O acordo foi o perdão das dívidas em troca da permissão para vender açúcar ao povo - o pó era coisa pra rico. Em contrapartida, os governos proibiriam o comércio dos seus concorrentes. Assim surgiram as drogas proibidas e as liberadas.
O mercado das proibidas no entanto não acabou, ao contrário se transformou no poderoso e imbatível narcotráfico. O narcotráfico gerou os organismos de segurança, os milionários departamentos de combate às drogas, os sistemas de transportes em navios, aeronaves, caminhões, motos e úteros. E sobretudo criou os políticos assediadores de traficantes.
Na Colômbia de Pablo Escobar, por exemplo, eram políticos que corrompiam traficantes e não o contrário. No Brasil, a capital federal é um dos paraísos do pó nacional e importado. De um lado políticos usam e do outro proibem. Manter a proibição é um grande negócio livre de impostos. É como o animal que se alimenta do próprio corpo. O combate, portanto, é outra hipocrisia.
Todos sabem que o narcotráfico está décadas à frente em termos tecnológicos e logísticos em relação aos seus perseguidores. As redes de distribuição envolvem de igrejas a barracas de frutas, de boates de ricos a botecos de esquinas. Todos sabem que os grandes traficantes não estão nos morros nem nas vielas, estão nas coberturas e em condomínios de luxo na Barra da Tijuca, por exemplo.
Eu falo "todos" como ironia, a maioria não tem noção nem do funcionamento dos rins. Não têm noção de que o pão consumido está cheio de drogas químicas, venenosas, cancerígenas. Nem avaliam ser o álcool pior que o crack, que o vinho não tem nada de santo e que a cerveja é pura empata foda, baixa libido de homens e mulheres.
A sociedade moderna é uma monumental mentira. Jornais desinformam, redes sociais confundem, a educação convencional mata a crítica, remédios viciam e as farmácias, grandes traficantes da era moderna, crescem mais que parques e escolas.
E a gente sabe onde essa mentirada toda vai parar, não é?
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