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Foto do escritorArthur Andrade Tree

A DESTRUIÇÃO DAS IDENTIDADES. A queda dos nomes, sobrenomes e o retorno às cavernas digitais.

Atualizado: 30 de abr. de 2024



Vivemos tempos em que os nomes e sobrenomes fazem retorno à pré-história. Como no tempo das cavernas, o mundo digital está hoje repleto de símbolos, palavras aleatórias e até sons guturais substituindo nomes caretas. Bizarroh, Ácido Acético Etílico da Silva, Kakaroto, Tekila, Urroo, Baahh escondem pessoas reais chamadas  Pedro, João, Bruno, Joana, Marília com seus sobrenomes de orgulho da família.


No passado, os sons simbólicos dos nomes buscavam identificar e definir territórios, no presente eles buscam esconder e confundir. A deepweb, por exemplo, é  lugar sem leis e sem eus. Ali todos inexistem. O sentido da existência é a camuflagem. Ninguém tem nome de registro, ali são todos inventados. É  outro paradigma. A identidade virou apelido.


Coisa mais careta é Anitta se apresentar no cartório como Larissa Machado e o MC Cabelinho se apresentar como Victor Hugo Oliveira. Alguns já chegaram com pseudônimo pronto como Alok (Alok Achkar Peres Petrillo), nome sugerido por um guru indiano. O cara estava nas nuvens.


Trocar nomes por nomes falsos de fácil consumo é, no entanto, uma prática antiga nos mundos das artes e do crime. O senhor Ariclenes Venâncio é um pobre desconhecido, mas seu pseudônimo Lima Duarte é de um famoso ator de teatro, cinema e TV. Jeane Mortenson ninguém sabe quem é, mas Marilyn Monroe todos sabem. Alphonse Gabriel seria nome de um rico aristocrata grego e não do gangster Al Capone, e Virgulino Ferreira seria um inocente ajudante de pedreiro e não o temivel Lampião. Os nomes têm força. A numerologia substitui cada letra por um número e exibe seu poder. Muitos trocaram após estudos numerológicos pra ver se a coisa andava.


Conheço gente que mexeu no nome pra lá e pra cá buscando mudar de vida. Eu sou uma delas. Fui num numerólogo paulista que havia sido bancário frustrado. Perdeu o emprego até que descobriu o poder dos números e dos nomes. Mexeu e remexeu no próprio que acabou virando numerólogo. Então mexeu no meu. Tirou letra aqui, botou outra ali, maltratou o português com consoante junto de consoante, me fez treinar meu novo nome, "escreva mil vezes". Pronto, assine assim que agora vai.


Agora estou naquela, não sei se fui porque troquei o nome ou se estou onde era pra estar com o velho nome. Bom, meu nome transmutado é um segredo a sete mil chaves, mais por vergonha na cara do que por respeito ao universo. Sim, porque o universo não gosta que revelemos nossos segredos. Acredito!

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